Cinco dias é muito pouco tempo para um homem que acaba de se tornar pai se adaptar à nova família.
No entanto, esse é o tempo da licença paternidade no Brasil. Recentente, muitas empresas de tecnologia, como Spotify, Netflix e Facebook, ampliaram a duração da licença para os homens trazendo a discussão à tona.
Cinco dias é muito pouco tempo para iniciar a construção de um vínculo afetivo que será um dos pilares do desenvovlimeto do bebê. A mulher começa a ser mãe antes do pai, que só concretiza de fato sua paternidade no nascimento da criança e precisa interromper este processo tão intenso ao fim de cinco dias, sentido-se muitas vezes excluído da relação com a mulher e com o filho – explica a psicóloga, lembrando que o casal passa de dois a três dias no hospital, local onde ocorrem a maior parte dos partos. Com isso, restam de dois a três dias em casa, de fato, para iniciar uma adequação à nova situação familiar.
Desde a gestação fala-se muito do papel da mãe. E o do pai, neste contexto, fica um tanto obscuro. Muitos homens nem sabem que desempenham um papel importante ainda durante a gravidez, dando suporte emocional à mulher e também começando a estabelecer os primeiros vínculos com o bebê.
Já se sabe que o bebê é sensível, mesmo no período intrauterino, às emoções e sentimentos maternos, e que é capaz de ouvir e reagir a sons, tanto externos quanto internos, a partir da vigésima semana gestacional. É neste período que o pai pode começar a estabelecer um vínculo com o bebê, em conversas feitas através da barriga. As principais necessidades do bebê são afeto e segurança, e mais do que ter um pai, o bebê precisa sentir-se desejado por ele.
Mas é sobretudo depois do nascimento que os vínculos se aprofundam. Os primeiros dias do bebê constituem um período de adaptação no qual pais e filho estão se conhecendo e estabelecendo as primeiras e mais importantes trocas afetivas.
A relação estabelecida nestes primeiros dias e meses de vida do bebê é diferente com o pai e com a mãe, mas isso não significa que uma seja mais importante que a outra. O vínculo mãe-bebê é crucial para o desenvolvimento psíquico e físico da criança, mas a presença do pai é fundamental, facilitando as condições para que a mãe possa exercer a função materna da forma necessária.
É o pai que provê a segurança à dupla mãe-bebê de que tudo vai ficar bem, fornecendo suporte emocional, auxiliando a mulher a pensar com mais clareza em situações difíceis ou angustiantes, participando ativamente de tarefas com o bebê que vão colaborar tanto para a construção de seu vínculo com a criança quanto para que a mãe não se sinta sozinha e sobrecarregada. Durante esses primeiros momentos vão se constituindo as marcas psíquicas, afetivas, primordiais para todo o desenvolvimento futuro da criança.
A função paterna é prover segurança, referência, valores culturais, sociais e familiares, e autoridade, o que é fundamental para o desenvolvimento psicológico e cognitivo do bebê, desde o momento de seu nascimento. Por tudo isso, o ideal, de acordo com a psicóloga, seria o pai poder permanecer em casa pelo menos 3 meses, período mínimo da acomodação da nova constituição familiar.
No Brasil, infelizmente, isto está longe de acontecer. Acredito que algo em torno de 30 dias, que não é o ideal, mas é melhor do que o temos hoje, já traria ganhos importantes para pais e bebê.
“Um pai muitas vezes suplanta a sabedoria de mais de uma centena de mestres.”
(Cecília Antunes)
Foi-se a época em que o papel do pai limitava-se ao de trabalhar para prover o lar e se responsabilizar pelas decisões importantes a serem tomadas em casa, delegando à mulher a função de cuidar do lar e da educação dos filhos. Os tempos modernos trouxeram a necessidade de uma redefinição do papel social tanto da mulher e do homem, e este vem percebendo que criar vínculos afetivos mais profundos com seus filhos é positivo não apenas para as crianças, mas para também para si próprio.
Reconhece-se hoje o quanto é fundamental a participação do pai no desenvolvimento do filho desde a gestação, momento este no qual ele se depara geralmente com um aumento de sensibilidade da mulher e com a possibilidade de vivenciar momentos de instabilidade emocional, sentimentos de maior necessidade de proteção, dentre outros e faz parte importante de seu papel colaborar com a estabilidade emocional desta durante toda a etapa gestacional. Porém, é preciso atentar para o fato de que este pai, por sua vez, também sente necessidade de afeto e compreensão, o que faz importante que as manifestações de carinho sejam recíprocas e que seja permitido a ele partilhar da gestação o máximo possível, participando das consultas, obtendo informações sobre seu bebê, tocando a barriga, falando com o bebê, para que, depois de nascer, esse bebê possa reconhecer em sua voz sensações positivas.
No momento do parto, apesar da participação maior ser biologicamente de responsabilidade da mãe, o homem tem um papel fundamental na troca afetiva com a mulher bem como nos primeiros contatos com seu bebê. Alguns estudos apontam para o fato de que os pais que tiveram contato com seus filhos nos primeiros momentos de vida puderam estabelecer com estas relações mais próximas quando comparados àqueles que não tiveram.
E após o nascimento? É natural que a mulher entre numa relação muito estreita, e necessária, com seu bebê e que talvez o homem sinta-se deixado de lado, até mesmo deslocado nesta relação. Então, que posição cabe a ele nesta nova relação que se estabelece? Notamos uma maior disponibilidade dos homens em dividirem as tarefas práticas com os bebês, como trocar fraldas, dar banhos, mamadeiras e sem sombra de dúvida isso favorece seu vínculo com os filhos. Porém seu papel neste momento vai muito além disso.
A mulher vive uma relação mãe-bebê muito intensa, para dedica todo o seu tempo, toda a sua atenção e sua energia, dormindo pouco, deixando a si mesma e a outros afazeres num segundo plano, para ser neste momento o que chamamos de uma mãe suficientemente boa nesta fase de vida de seu filho. É um momento em que podemos dizer que a mãe está alimentando o bebê de si mesma, e, para que este processo ocorra de maneira bem sucedida, ela precisa ser alimentada por alguém: o pai! É a ele que cabe o papel de ajudar a mãe a manter-se disposta a cuidar bem de seu filho neste momento.
Muitos especialistas pontuam o risco do aparecimento da depressão pósparto nas mulheres durante este período. Importante ressaltar que pesquisas recentes apontam para o fato de que este quadro não é exclusividade feminina. Os homens também correm o risco de viver episódios como este e devem ser encaminhados a tratamentos adequados.
Este período, como todos, é transitório, e logo a criança se desenvolve e começa a estabelecer uma interação mais direta com o pai e é importante ter em mente que, desde muito pequena, a criança tem necessidade de referência e valores que estarão presentes até a vida adulta. Porém, nos primeiros anos de vida esses valores têm um peso significativo e deve haver uma coerência entre o que é discursado e o que é praticado. Daí mais uma vez a importância do homem dispor de um tempo efetivo para o filho, para brincar, contar os acontecimentos do dia, contar histórias, criar momentos de intimidade essenciais para que seja fortalecido o vínculo e para dar parâmetros de comportamento à criança.
Cabe ao pai também dar limites e soltar as amarras do filho, uma vez que a mãe tem uma tendência natural para transmitir valores como acolhimento e proteção. Seu papel é fundamental para ajudar a criança a construir sua autonomia, soltar-se para a vida, desenvolver a agressividade natural para a vida, balanceando desta forma a tendência mais acolhedora e protecionista da mãe.
Além disso tudo, o homem colabora para que os filhos, meninos e meninas, conheçam e compreendam o universo masculino, o que é de fundamental importância para o desenvolvimento de sua personalidade.
Não se deve pensar, entretanto, que uma criança impossibilitada de conviver com o pai, por qualquer motivo que seja, esteja fadada a ser infeliz ou problemática. Claro que faz falta! Por isso mesmo que recomenda-se na falta do pai, procurar representar a figura paterna por um tio, um avô ou algum adulto do sexo masculino que tenha uma participação ativa e importante na vida da criança.
Como se pode perceber, o papel do pai, assim como o da mãe, é muito importante para a vida psíquica da criança e tem influência direta para toda a vida, para uma boa ou uma má formação pessoal.